Por que as vacinas orais falham mais em regiões mais pobres?

Por: Diário da Saúde  Data: 17/08/2021 às 06:39

Um distúrbio intestinal crônico que ocorre em regiões com falta de saneamento “desmonta” as respostas imunológicas intestinais e prejudica a eficácia das vacinas tomadas oralmente.

A descoberta é importante porque as vacinas orais administradas por gotas na boca – como as vacinas contra a poliomielite e o rotavírus – são especialmente úteis em países de baixa renda, que podem não ter profissionais de saúde treinados para administrar vacinas por meio de agulhas.

E essas mesmas vacinas também estimulam uma melhor imunidade local no intestino, que é fundamental para evitar doenças contraídas por alimentos e água contaminados – incluindo algumas das próprias infecções que contribuem para o distúrbio intestinal, chamado disfunção entérica ambiental.

O problema é que a presença dessa disfunção atrapalha não apenas a criação dessa imunidade local, como a ação da própria vacina em sua função principal.

Depois de aplicar uma vacina oral em camundongos sadios e com o problema intestinal, os pesquisadores constataram que as respostas imunológicas ficaram gravemente comprometidas naqueles com a disfunção entérica. As células T CD4+, específicas para vacinas no intestino delgado, ficaram cerca de 18 vezes mais baixas do que nos camundongos de controle.

Falha onde mais é necessária

A disfunção entérica ambiental é causada por desnutrição e infecção gastrointestinal crônica por alimentos e água contaminados.

A infecção por vírus, parasitas ou bactérias, combinada com uma dieta pobre, pode desencadear uma inflamação intestinal e danificar as projeções do intestino em formato de dedo chamadas vilosidades, que ajudam a absorver os nutrientes dos alimentos.

“É trágico que as vacinas exatas que podem ajudar a prevenir a disfunção entérica ambiental não funcionem em crianças que têm a doença,” disse o Dr. Timothy Hand, da Universidade de Pittsburgh (EUA).

A pesquisa contou com a participação da equipe da professora Denise Morais da Fonseca, da USP (Universidade de São Paulo).

A equipe agora planeja fazer colaborações com pesquisadores em países onde a disfunção entérica ambiental está mais presente para tentar entender melhor os resultados das vacinas orais em crianças com esta doença. Até o momento, a pesquisa foi realizada apenas em animais de laboratório.