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Mudar qual mundo?

O desejo de mudanças incendeia muitos corações. Ou melhor: todos. Em alguma medida, todos nós desejamos que algo passe a ser diferente do que é, voltando a ser como foi ou passando a estar de um modo que jamais fora antes. Esse é um dos impulsos que nos fazem, talvez, esperar e esperançar na vida os sonhos mais belos.

Falando de sonhos, resta dizer que eles são, a meu ver, indispensáveis, em certa medida, pois apontam ao horizonte desejado e, como disse Eduardo Galeano, ajudam no caminhar. Não fosse um imaginário propulsor, o que seria a vida? Muito pouco ou quase nada nos restaria de significados e significantes. Vivemos em prol de transformação. O ser humano é um ser de mudas.

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Mas no atropelo das relações virtuais, parece que acabamos perdendo algumas noções. Se mudar é inerente, o que seria, por consequente, preciso e/ou possível mudar? Estamos tratando de uma mudança de status social, econômico, espiritual, de valores; individual, corporativa ou em favor do bem comum… Qual a mudança almejada? Todas? Mas em quais momentos elas são devidamente selecionadas? Ao mesmo tempo? É possível?

A ação cotidiana nos prega mudanças, mas quais são elas? Em qual mundo repercutem? No mundo da vida, real e doloroso, carregado por contradições e desafios ou num mundo fantasioso no qual a dor é o outro, o diverso, o não idêntico? Pergunto-me: em qual mundo as mudanças que penso participar ou promover estão sobrevivendo? Qual o impacto das minhas ações? A quem elas alcançam? A minha linguagem, o meu caminhar e as minhas propostas são tão inclusivas, acessíveis e revolucionário quanto às minhas ideias?

Mudar o mundo da vida requer uma interconexão muito atenciosa com a diversidade A beleza da vida, da multiplicidade de pessoas, opiniões e visões não se dá somente quando a serviço e de interesse de si próprio, de um grupo. O mundo é mais que o “eu” e suas circunstâncias e, nesse contexto, é preciso saber adequar os espaços de discussões às mudanças que cada um deles pode canalizar: o partido político, a associação, a igreja, o grêmio estudantil, o centro acadêmico, os movimentos sociais propriamente ditos, os conselhos de direitos. Cada um tem seu papel e nenhum deles pode roubar a riqueza das especificidades que o outro possui.

Igrejas e outros templos espirituais são excelentes para trabalhar valores e espiritualidade (alguns pensam que é para fofoca, estão enganados), mas impróprios para fazer política partidária. Movimentos sociais são espaços decentes para difundir causas sociais relevantes, mas não preferíveis para doutrinar religiosidades. Entidades de participação social para fins de representação são mecanismos, no mínimo, atraentes para construir unidade de propósitos e pautas coletivas, mas péssimos para fincar bandeira ideológica exclusivista, dogmática e de verdades imutáveis.

E não há nada de feio nisso. O mundo não é um todo plano e coeso que só precise de um grupo para salvar a humanidade e desempenhar todas os papéis rumo ao paraíso. O mundo que precisa ser mudado tem suas especificidades, com as quais precisamos lidar com uma visão ampla, onde cabem todas e todos, na sua valiosa batalha, mas sem confundir o local do seu grupo com o espaço de encontro e diálogo para todos.

Enfim, a verdade é que todas e todos queremos mudar o mesmo mundo. Necessário mesmo, em síntese, é escolher sob qual realidade atuar, sem confundir os meios para a sua preciosa forma de atuação.

É escolher o solo fértil para plantio e colheita de cada espécie de semente. Aquele jardim exclusivo para rosas vermelhas tem o seu solo e a sua beleza. Mas elas, as rosas, não podem ser cultivadas com agressões a jardins que são, essencialmente, mais coloridos, que têm, por função, abrigar roseiras de cor vermelha ao redor de uma diversidade mágica de outras flores.

Feliz de quem perceba, na caminhada da vida, que um único jardim seria insuficiente para mudar o mundo, que é um só, mas abriga diferentes cenários, linguagens e pessoas.

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