1 a cada 7 adolescentes sofreu algum tipo de violĂȘncia sexual

Por: AgĂȘncia Brasil  Data: 13/07/2022 Ă s 10:33

No Brasil, 14,6% dos adolescentes, ou seja, um a cada sete, sofreram algum tipo de violĂȘncia sexual, o que inclui desde assĂ©dio a estupro. Desses, 5,6% tiveram relação sexual forçada. Os dados sĂŁo da Pesquisa Nacional de SaĂșde do Escolar (PeNSE) 2009/2019, divulgados hoje (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂ­stica (IBGE).

A publicação analisa os dados da sĂ©rie histĂłrica de dez anos da PeNSE, considerando as pesquisas divulgadas em 2009, 2012, 2015 e 2019. As informaçÔes sĂŁo referentes aos estudantes do 9Âș ano do ensino fundamental, grupo que inclui adolescentes de 13 a 15 anos, das capitais brasileiras. 

A violĂȘncia sexual vem sendo captada na PeNSE desde 2015. Segundo o IBGE, nessa edição, a pergunta buscava mensurar o percentual de estudantes que alguma vez na vida foram obrigados a terem relaçÔes sexuais. Nesse ano, o resultado da pesquisa mostrou que 3,7% dos alunos do 9Âș ano das capitais brasileiras tinham passado por essa situação.

O IBGE identificou que, muitas vezes, o adolescente, seja pela falta de maturidade ou pelo contexto em que Ă© socializado, nĂŁo tem clareza sobre o que Ă© ou nĂŁo considerado violĂȘncia sexual, por isso, em 2019, a pesquisa mudou e passou a trazer exemplos desse tipo de violĂȘncia, como ser tocado, manipulado, beijado ou ter passado por situaçÔes de exposição de partes do corpo. O percentual, entĂŁo, aumentou para cerca de 15%, sendo que quase 6% tiveram relação sexual forçada.

AlĂ©m do aumento dos registros de violĂȘncia sexual, o estudo mostra ainda o aumento da violĂȘncia fĂ­sica sofrida pelos adolescentes. O percentual de estudantes que sofreram agressĂŁo fĂ­sica por um adulto da famĂ­lia teve aumento progressivo em dez anos, passando de 9,4%, em 2009, para 11,6% em 2012 e 16% em 2015. Em 2019, 27,5% dos escolares sofreram alguma agressĂŁo fĂ­sica cujo agressor foi o pai, mĂŁe ou responsĂĄvel e 16,3% dos escolares sofreram agressĂŁo por outras pessoas. Segundo o IBGE, em 2019, foram feitas mudanças tambĂ©m nesta questĂŁo, o que pode ter impactado os resultados.

A pesquisa mostrou ainda aumento na falta de segurança no trajeto para a escola. Em dez anos, dobrou o percentual de estudantes do 9Âș ano das capitais que faltaram ao menos um dia Ă  escola porque nĂŁo se sentiram seguros no trajeto ou na escola, passando de 8,6% em 2009 para 17,3% em 2019.

De acordo com a publicação, a falta de segurança e as vĂĄrias violĂȘncias sofridas pelos estudantes podem resultar nĂŁo somente em agravos Ă  saĂșde dos adolescentes, como podem ter repercussĂ”es sobre a vida escolar, resultando em falta Ă s aulas e abandono escolar.  

Cenårio pré-pandemia
Os dados referem-se aos dez anos que antecedem o inĂ­cio da pandemia de covid-19, iniciada em 2020. “Temos a convicção de que nĂŁo se trata da realidade atual, mas se trata de um arcabouço de anĂĄlise que permite verificar como estava a tendĂȘncia de determinados fatores que, afetados pela pandemia, podem ter resultado em situaçÔes mais graves, que merecem uma intervenção mais clara e, com isso, subsĂ­dios para um conhecimento melhor de como agir nesse momento”, diz o gerente da pesquisa, Marco Antonio Ratzsch de Andreazzi.

O estudo mostra que a proporção de estudantes do 9Âș ano do ensino fundamental de escolas pĂșblicas que tinham internet onde residiam passou de 43,9% em 2009 para 91,6% em 2019. Considerados todos os estudantes, essa proporção chegou a 93,6% em 2019, um aumento de 76,8% desde 2009.

O acesso à internet e a dispositivos eletrÎnicos impactou, sobretudo na pandemia, o acesso às aulas, uma vez que as escolas tiveram que fechar as portas para impedir a propagação do vírus.

Outro quesito para o qual a pandemia chamou a atenção foi Ă  lavagem de mĂŁos. O estudo mostra que, enquanto 98,2% dos adolescentes da rede privada tinham pia em condiçÔes de uso e com sabĂŁo em suas escolas em 2019, somente 63,7% dos adolescentes das escolas pĂșblicas contavam com isso.

Em relação Ă  saĂșde mental, em 2019, 59,5% das meninas apontaram mal estar frequente por terem muita preocupação; 58,8%, por irritação e nervosismo; e 33,7% sentiam que a vida nĂŁo valia a pena. Entre os meninos, esses percentuais eram respectivamente 42%, 28,5% e 14,1%.

Em dez anos, aumentou o nĂșmero de estudantes insatisfeitos com o prĂłprio corpo: o percentual dos que reclamavam de serem gordos e muitos gordos passou de 17,5% em 2009 para 23,2% em 2019. JĂĄ entre os que se consideravam magros ou muito magros, a taxa era de 21,9% e chegou a 28,6%.

Sobre a pesquisa
A PeNSE, feita por amostragem, Ă© realizada em parceria com o MinistĂ©rio da Educação e o MinistĂ©rio da SaĂșde, com o objetivo de coletar informaçÔes para dimensionar os fatores de risco e proteção Ă  saĂșde dos adolescentes. SĂŁo pesquisados diversos aspectos referentes Ă  saĂșde fĂ­sica e emocional, como segurança em casa e na escola, acesso Ă  internet, uso de preservativos, relação com o prĂłprio corpo e com a alimentação, entre outros.

Na publicação divulgada hoje, o IBGE traça as tendĂȘncias apontadas pelos dados coletados nas Ășltimas ediçÔes da pesquisa. Como a metodologia mudou ao longo dos anos, para que possam ser comparados, os pesquisadores buscaram uniformizar as bases considerando neste estudo os estudantes do 9Âș ano – amostra menor que a da PeNSE, que considera atualmente os jovens de 13 a 17 anos – e apenas as capitais brasileiras.  

O estudo foi divulgado como estatĂ­stica experimental pois, de acordo com o IBGE, aplica novos mĂ©todos nĂŁo utilizados, que ainda estĂŁo em fase de teste e sob avaliação.