No Brasil, 14,6% dos adolescentes, ou seja, um a cada sete, sofreram algum tipo de violĂȘncia sexual, o que inclui desde assĂ©dio a estupro. Desses, 5,6% tiveram relação sexual forçada. Os dados sĂŁo da Pesquisa Nacional de SaĂșde do Escolar (PeNSE) 2009/2019, divulgados hoje (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂstica (IBGE).
A publicação analisa os dados da sĂ©rie histĂłrica de dez anos da PeNSE, considerando as pesquisas divulgadas em 2009, 2012, 2015 e 2019. As informaçÔes sĂŁo referentes aos estudantes do 9Âș ano do ensino fundamental, grupo que inclui adolescentes de 13 a 15 anos, das capitais brasileiras.
A violĂȘncia sexual vem sendo captada na PeNSE desde 2015. Segundo o IBGE, nessa edição, a pergunta buscava mensurar o percentual de estudantes que alguma vez na vida foram obrigados a terem relaçÔes sexuais. Nesse ano, o resultado da pesquisa mostrou que 3,7% dos alunos do 9Âș ano das capitais brasileiras tinham passado por essa situação.
O IBGE identificou que, muitas vezes, o adolescente, seja pela falta de maturidade ou pelo contexto em que Ă© socializado, nĂŁo tem clareza sobre o que Ă© ou nĂŁo considerado violĂȘncia sexual, por isso, em 2019, a pesquisa mudou e passou a trazer exemplos desse tipo de violĂȘncia, como ser tocado, manipulado, beijado ou ter passado por situaçÔes de exposição de partes do corpo. O percentual, entĂŁo, aumentou para cerca de 15%, sendo que quase 6% tiveram relação sexual forçada.
AlĂ©m do aumento dos registros de violĂȘncia sexual, o estudo mostra ainda o aumento da violĂȘncia fĂsica sofrida pelos adolescentes. O percentual de estudantes que sofreram agressĂŁo fĂsica por um adulto da famĂlia teve aumento progressivo em dez anos, passando de 9,4%, em 2009, para 11,6% em 2012 e 16% em 2015. Em 2019, 27,5% dos escolares sofreram alguma agressĂŁo fĂsica cujo agressor foi o pai, mĂŁe ou responsĂĄvel e 16,3% dos escolares sofreram agressĂŁo por outras pessoas. Segundo o IBGE, em 2019, foram feitas mudanças tambĂ©m nesta questĂŁo, o que pode ter impactado os resultados.
A pesquisa mostrou ainda aumento na falta de segurança no trajeto para a escola. Em dez anos, dobrou o percentual de estudantes do 9Âș ano das capitais que faltaram ao menos um dia Ă escola porque nĂŁo se sentiram seguros no trajeto ou na escola, passando de 8,6% em 2009 para 17,3% em 2019.
De acordo com a publicação, a falta de segurança e as vĂĄrias violĂȘncias sofridas pelos estudantes podem resultar nĂŁo somente em agravos Ă saĂșde dos adolescentes, como podem ter repercussĂ”es sobre a vida escolar, resultando em falta Ă s aulas e abandono escolar.
Cenårio pré-pandemia
Os dados referem-se aos dez anos que antecedem o inĂcio da pandemia de covid-19, iniciada em 2020. âTemos a convicção de que nĂŁo se trata da realidade atual, mas se trata de um arcabouço de anĂĄlise que permite verificar como estava a tendĂȘncia de determinados fatores que, afetados pela pandemia, podem ter resultado em situaçÔes mais graves, que merecem uma intervenção mais clara e, com isso, subsĂdios para um conhecimento melhor de como agir nesse momentoâ, diz o gerente da pesquisa, Marco Antonio Ratzsch de Andreazzi.
O estudo mostra que a proporção de estudantes do 9Âș ano do ensino fundamental de escolas pĂșblicas que tinham internet onde residiam passou de 43,9% em 2009 para 91,6% em 2019. Considerados todos os estudantes, essa proporção chegou a 93,6% em 2019, um aumento de 76,8% desde 2009.
O acesso Ă internet e a dispositivos eletrĂŽnicos impactou, sobretudo na pandemia, o acesso Ă s aulas, uma vez que as escolas tiveram que fechar as portas para impedir a propagação do vĂrus.
Outro quesito para o qual a pandemia chamou a atenção foi Ă lavagem de mĂŁos. O estudo mostra que, enquanto 98,2% dos adolescentes da rede privada tinham pia em condiçÔes de uso e com sabĂŁo em suas escolas em 2019, somente 63,7% dos adolescentes das escolas pĂșblicas contavam com isso.
Em relação Ă saĂșde mental, em 2019, 59,5% das meninas apontaram mal estar frequente por terem muita preocupação; 58,8%, por irritação e nervosismo; e 33,7% sentiam que a vida nĂŁo valia a pena. Entre os meninos, esses percentuais eram respectivamente 42%, 28,5% e 14,1%.
Em dez anos, aumentou o nĂșmero de estudantes insatisfeitos com o prĂłprio corpo: o percentual dos que reclamavam de serem gordos e muitos gordos passou de 17,5% em 2009 para 23,2% em 2019. JĂĄ entre os que se consideravam magros ou muito magros, a taxa era de 21,9% e chegou a 28,6%.
Sobre a pesquisa
A PeNSE, feita por amostragem, Ă© realizada em parceria com o MinistĂ©rio da Educação e o MinistĂ©rio da SaĂșde, com o objetivo de coletar informaçÔes para dimensionar os fatores de risco e proteção Ă saĂșde dos adolescentes. SĂŁo pesquisados diversos aspectos referentes Ă saĂșde fĂsica e emocional, como segurança em casa e na escola, acesso Ă internet, uso de preservativos, relação com o prĂłprio corpo e com a alimentação, entre outros.
Na publicação divulgada hoje, o IBGE traça as tendĂȘncias apontadas pelos dados coletados nas Ășltimas ediçÔes da pesquisa. Como a metodologia mudou ao longo dos anos, para que possam ser comparados, os pesquisadores buscaram uniformizar as bases considerando neste estudo os estudantes do 9Âș ano – amostra menor que a da PeNSE, que considera atualmente os jovens de 13 a 17 anos – e apenas as capitais brasileiras.
O estudo foi divulgado como estatĂstica experimental pois, de acordo com o IBGE, aplica novos mĂ©todos nĂŁo utilizados, que ainda estĂŁo em fase de teste e sob avaliação.